sábado, 24 de janeiro de 2009

3.1.3. Da Propriedade no Domínio Cultural


Quem, em termos artísticos aconselhou ao poeta: “CANTA A TUA ALDEIA E SERÁS UNIVERSAL (paráfrase de autoria anônima da célebre frase de Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.)” — expressou-se em absoluta Verdade. Quem dá orientações voltadas a que o jovem busque sempre um estilo próprio em seu desempenho, de acordo com a própria vocação e sem negação das raízes culturais, está aplicando elementos da Ciência das Aldeias. Quem, após analisar todo o referencial de determinada região, proporcionar condições a fim de que em seu meio ambiente típico sejam desenvolvidas atividades próprias em harmonia com as características peculiares desse local, trabalha em Aldeística. E, em termos dessa Ciência, tanto os versos do poeta a seu rincão, como o resultado do trabalho do jovem vocacionado, como ainda a produção típica de uma região são propriedades, embora não sujeitas aos limites de um domínio puramente físico ou no campo jurídico, mas propriedades culturais subjetivamente inalienáveis por parte de todos que participam com suas vidas ao tempo dessas manifestações.
Talvez seja difícil o entendimento de que, culturalmente falando, numa comunidade, um habitante subjetivamente tem como propriedade tudo o que ali se encontra como parte do local (patrimonial e/ou naturalmente), livre de outros conceitos de propriedade determinados pela Política, Direito e demais ciências.
Quando se fala, por exemplo, que Limeira é a “Terra da Laranja”, culturalmente, a “laranja é de Limeira e de todos que se ligam a Limeira, sejam ou não, limeirenses”, não havendo importância quanto a exploração econômica que alguns fazem e outros não, da citricultura. E esse exemplo pode ser utilizado em relação a tudo que uma cidade possui. Se, em qualquer parte do mundo existem dois concidadãos, sendo economicamente um pobre e outro rico, culturalmente, tal fato não ocorre, pois a riqueza econômica do rico faz parte do patrimônio cultural do pobre, da mesma forma em que se o pobre for um tipo popular pleno de originalidades, sua riqueza de espírito, culturalmente, fará parte da vida do rico. A arte está aí a nos dar uma fartura de exemplos — o que pintam os pintores? Na maioria paisagens, aspectos urbanos, tipos populares, abstrações, naturezas mortas, cenas místicas, sacras, mas tudo, em grande proporção, que se acha ligado à aldeia. A música, a poesia, a literatura, o teatro, o cinema, as artes plásticas, as artes decorativas, artesanatos, tanto tradicional, como de vanguarda, o que têm espontaneamente como tema? A resposta é a mesma. A verdadeira Arte parece não conseguir fugir dos elementos ligados à Aldeia. O que caracteriza um romance literário? Primeiro um homem e uma mulher e um obstáculo ou impedimento que ambos se unam depois o cenário onde a vitória ou não sobre o obstáculo acontece. O cenário é o elemento mais importante uma vez que o casal em dificuldade de aproximação, é coisa comum. O que provam os romances? A vitória ou a perpetuidade do Amor. A prevalência do Bem sobre o Mal, e, na literatura crítica, a amostragem de que o mal existe muitas vezes disfarçado de bem. Já foi mencionado o fato de que na obra “Horizonte Perdido” de James Hilton 9, há a demonstração de que o bem existe, mesmo disfarçado de mal, e nesse caso o Bem está simbolizado numa aldeia — Shangri-Lá. E quantas vezes, encontramos, em todas as artes, o Bem simbolizado como uma “aldeia pequenina”. Aliás, o mito da “aldeia feliz” parece acompanhar o homem desde o estágio tribal. Esse aspecto poderá ser observado com muita evidência nos trabalhos de Carl Gustav Jung 10, no âmbito da Psicologia.

(excerto de “Aldeística” –obra inédita – Paulo Cesar Cavazin)

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Bibliografia do trecho acima:

9. HILTON, James — Horizonte Perdido. Tradução de Francisco Machado Vila e Leonel Vallandro. 1a. ed. São Paulo.Editor:Victor Civita 1974.10. EDIÇÕES DE PLANETA (Livro de Planeta), Jung. Seleção de Diversos Autores. Organizada por Léon Bonaventure, Jette Bonaventure e Zilda Kawall. Traduções de Roberto Gambini e Dr. Glauco Ulson. São Paulo. Editora Três. 1975. [alusiva ao Centenário

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