domingo, 26 de outubro de 2008

MINHA CRÔNICA DE NATAL

“MINHA CRÔNICA DE NATAL”

Entre a pequena vegetação que revestia os arredores de meu casebre, nascera uma flor. Não era formosa e nem exuberante, mas graciosa e humilde como todas as criaturas do campo. Ao fitá-la, a princípio, achei-a sorridente e simpática, porém, não quis colhê-la. Tive pena de fazê-la compartilhar da solidão que reinava em minha vivenda. Não pretendi privá-la do esplendor do sol de dezembro, do frescor das chuvas de verão e da brisa perfumada.
Os sons dos sinos da capelinha do vilarejo invadiam a natureza anunciando o início da comemoração natalina... Ah!... Minha família, como estava longe! Quanta saudade sentia dos natais passados, onde a fartura e a euforia dos habitantes da cidade em que nasci criavam longos e felizes festejos. Como era bom o tempo de criança, das árvores ricamente enfeitadas, das ceias, dos presentes inesperados, dos presépios eletrônicos, do Papai Noel a passear pelas ruas, dos orfeões a cantar “Noite Feliz” na madrugada. Quanta coisa maravilhosa!...
Naquele dia, porém, a sorte mudara. Eu estava distante de tudo, habitando em uma casinha miserável, em terras diferentes e sem amigos. Veio a noite. Decidi caminhar algumas léguas a pé, para assistir à “Missa do Galo” celebrada na capelinha. O caminho se fizera iluminado por estrelas que cintilavam fazendo com que se previsse bom tempo. Mas eis, que na volta, o vento frio do Sul começou a soprar e vasto cortinado de nuvens cobriu a resplandecência estelar. Talvez chovesse. Apressei meus passos e logo me vi em casa sentado entristecido na beirada do leito, pronto para deitar-me. Lá fora, havia trovões e relâmpagos. O vento rosnava furioso.
“A flor”!... Lembrei-me, de repente. E com coragem abandonei o abrigo para enfrentar a chuva, o vento, e poder salvar aquela insignificante criatura. Cuidadosamente, consegui transportá-la para um copo d’água que estava sobre a pequena mesa de meu aposento. Ela se tornara tão bela ali, que parecia querer se expressar em agradecimentos. Subitamente, eu me sentira satisfeito. Sorrindo para a flor, deitei e adormeci.
Ao despertar, em luminosa manhã, o casebre estava todo perfumado e minha companheira permanecia irradiando felicidade lá de seu copo. Não havia presépios, ceias, orfeões, ou ricos presentes, porém, tudo se fizera tão belo e envolto de uma estranha ternura. Era o amor que ali existia.
Hoje, após muitos anos reconheço. Esse foi o Natal mais sublime que vivi. Naquela época de solidão, eu sentira verdadeiro valor das pequenas coisas e a lição de humildade da qual o exemplo é o próprio Menino Jesus. Assim transcorreu meu “Feliz Natal”, que se fez num casebre, em companhia de uma flor.
Paulo Cesar Cavazin

Um comentário:

Antônio disse...

Há controvérsias. A lição de humildade do próprio menino Jesus ficou um pouco no ar para mim. Meus estudos bíblicos apontam para o fato que não existiu menino Jesus e sim bebê Jesus e, como se sabe, bebês não podem dar lição alguma, muito menos de humildade. Jesus passou da fase de bebê para a fase adulta. Não há informações sobre sua adolescência e nem infância.

Tirante este equívoco(que pode muito bem ser meu), o conto é muito bom. Excelente.